quarta-feira, 30 de abril de 2014

Um conto de sarda

Uma menina com sarda
Brincava atrás da cortina
Desenhava uma fada
A solitária menina

Queria que a fada
Num toque de sua varinha
Retirasse do seu rosto a sarda
E ela detrás da cortina

A fada não entendendo nada
E achando tão bela a menina
Num toque doce de fada

Desapareceu com a cortina...
Um conto de sarda

Uma menina com sarda
Brincava atrás da cortina
Desenhava uma fada
A solitária menina

Queria que a fada
Num toque de sua varinha
Retirasse do seu rosto a sarda
E ela detrás da cortina

A fada não entendendo nada
E achando tão bela a menina
Num toque doce de fada
Desapareceu com a cortina...


Fomes                                                                                                 

Era inevitável a queda
frente ao vazio que se fazia
era café sem bolacha, sem fatia
era fome o que o coração mostrava e dizia

Era inevitável o pranto
frente ao exposto
era lição sem cartilha
era um mar imenso sem nenhuma possível ilha

Era inevitável o fim
frente ao penúltimo capítulo que se escrevia
era final feliz sem nenhum par
era romance sem nenhuma poesia

A fome comia...


Desejo

Se não posso sentir
mais do que tu me permites
ainda assim sigo sentindo
tudo aquilo que não sentes
e, quando feres os meus olhos
com teus limites,
correm em minhas veias
desejos repentes
Ao contrário do que vês,
não sou tão pura,
pois minha boca
solta uma mulher ardente
enquanto crês que me tens,
sou vã procura
embora aches que sou completa,
vejo-me doente...
Ao passo que vives encanto,
sou tortura
e, quando vivo em brasa,
és decente
O que faço por amor
chamo loucura
Talvez, por isso,

eu seja inocente... 
O acaso brinca de rima
          
Cabe-me, por encaixe, o olhar inteiro das bocas do acaso
Afasto-me quando, ao meu encalço, andam apressadas bocas métricas
Mergulho em luas claras e transparentes como se o medo fosse o raso
E não venham me dizer que almas são armadilhas bélicas

Atento aos relatosescuto a inconstante passagem do pensamento até o ato
Transformo-me num silêncio de lápide quando um grito quer ser mais forte do que o fato
Fatias inteiras de um bolo de chocolate do apartamento ao lado invadem lixos de uma favela
E, não venham me dizer, que corações sejam sempre as melhores janelas

Cabe-me a leveza da escrita para deixar dito o que tanto me aflige e alucina meu entender
Levado muitas vezes pelo interminável duelo daquilo do que se mais quer, com a razão burra de que não se precisa querer
Lanço-me aos poucos, aproveitando-me de noites escuras, para escrever poesias em muros que rodeiam almas tão vazias
E não me venham dizer que estou só, louco e o que entendo por felicidade sejam páginas de crônicas fictícias e fugidias...



Marcas, tatuagens e silêncios

Espelhávamos na própria carne quando pressentíamos a dor
e tudo era uma coisa só e tudo era só
chamávamos segredo o que era intenção ardente
propúnhamos ser o que não éramos para resistir à vida
vez por outra éramos apunhalados por nossos medos
quebrávamos bússolas, rasgávamos mapas, sujávamos lentes
havíamos atingido toda a inconstância das coisas tidas como certas
e velas abertas singravam mares, bares, ares e alhos e bugalhos
entendíamos que assim resistiríamos mais
ledo engano
depois de algum tempo nos reencontramos e não falamos nada
mas havia em nossos olhares uma dor
que por não ter sentido algum
marcaria toda a nossa vida

Túlio Piva  
               
Quando a lua do destino decidiu viajar
malas na sala, recados no mar
Assim veio um menino sem passagem, sem lugar
que também queria o céu...
Escreveu, ao lembrar do tanto, de um passado tão bom
e ele “nem sei em que data"...  clareou a viagem
Quem nunca ouviu Túlio Piva que me desculpe
Minha lua de menino sempre foi pendurada no céu
“feito um pandeiro de prata".
As desculpas

Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo...
Nunca entendi tantos dedos,
já que eu sabia do que se tratava...
Vez por outra deixavam somente recados,
avisavam que não mais voltariam
e, logo depois, voltavam...
E com elas chegavam outras palavras,
que eu não entendia muito bem seus significados...
Mas até aquele momento,
as desculpas não se importavam com o que eu poderia ter achado...
Algumas chegavam bêbadas,
outras chegavam sem avisar,
e outras tantas  não sabiam nem o que falar...
Nunca me preocupei em entendê-las,
mas entendia o que elas queriam mostrar,
assim ficava mais fácil conjugar o verbo desculpar...
E assim foi quando eu perdi meu par...
Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo,
que me ensinaram de um jeito especial
a verdadeira face do gostar...









Contemporâneo
                      
Nosso romance começou num bar.
Eu, tomava seu tempo.
Você, vodca.

Depois fomos num teatro.
Eu assistia a peça.
Você pregava uma.

Fomos num motel.
Eu pedia uísque.
Você trazia o gelo.

(Enquanto eu tomava a iniciativa, você procurava a sua posição)

Você caía na cama.
Eu na vida.

Alguns meses depois, após o primeiro encontro,
encontramo-nos num trem.
Eu teimava que era primavera.
Você parava em qualquer estação.

Anos depois, soube por alguém,
que enquanto eu escutava Caetano,
você saía com Chico, meu melhor amigo.




Saudade                                                                                                             

Já se vão as luas
que demorei tanto para colher
e, com elas, vão-se as conchas
de mares que eu guardei

Já se vão as brumas
que levavam o meu barco
e, com elas, vão-se as colchas
de camas que eu pintei

Já se vão as cartas
que demorei tanto para escrever
e, com elas, vão-se asvidas
que eu vi e delas já não sei

Conversas

Ainda assim, acredito em minha varanda, em minha rede, em minha poesia... acredito que tudo é simples demais e complicamos tudo. Ainda assim, acredito em andar de mãos dadas, em dormir de conchinha e outras posições de encaixes. Ainda assim, sigo a buscar, a "me" perder, a "me" encontrar e, tenham certeza que o tempo passa rápido
demais e precisamos aproveitá-lo com muito amor, em todos os sentidos. Ainda assim, continuo a passear na praia, a escutar as gaivotas e a todo o momento resgatar o menino que mora dentro de mim. Às vezes me pergunto se estou no mundo certo. A resposta vem rápida: com certeza, não.






As parceiras

Bebem noites,mas adoram café da manhã...
Mastigam palavras poeticamente,
e cinicamente arrotam desaforos...
Conversam com anjos.
Passam os finais de semana no inferno.
Compram tapetes na feira livre.
Adoram tapetes voadores e persas...
Riem com cumplicidade e choram do mesmo modo.
Possuem palavras doces,
que transformam em cicatrizes outras palavras...
Mudam a sala a toda hora.
Fazem as malas a todo instante.
Adoram samambaias e cult movies.
São contraditórias,
mas nós amamos suas histórias...
E por paixão e risco nos entrelaçamos a elas...

(As parceiras não tem nexo. Nem sexo devem ter.
São línguas, do hiato ao plural. Muito de transbordar nada,
pouco de preencher tudo)

São assim as parceiras,
que muitas vezes nem primeiras são...
As parceiras são pele e flor.
Viver sem elas seria cômodo demais.




Invasão
                      
Nada me invade se não o que realmente me invade
estou farto de segundas intenções planejadas
e nas quartas-feiras janto às terceiras
às quartas, às quintas, às sextas...
de intenções já tenho uma semana cheia

O amor é todo dia sempre

Eu preciso de riscos
Para fazer poesia
Eu preciso de amor
Para buscar boas rimas

Amor para mim é todo dia
Amor para mim é todo flor
Amor para mim é todo cor
Amor para mim é todo alegria

Mesmo que venha a tormenta e afaste o dia
Mesmo que venha a tormenta e destrua a flor
Mesmo que venha a tormenta e misture a cor
Mesmo que venha a tormenta e leve a alegria

Amor continua definitivamente para mim
Todo dia o dia todo









O acaso dormiu

Todo o engano que houve foi por um motivo conhecido
pediram para ler apenas uma página
e eu acabei lendo todo o livro
descobri todas as tramas, todos os finais
quem ficou com quem e quem não veio
e assim os amantes que gostam tanto de acasos não verão o filme
(ah... o filme nunca é melhor do que o livro)

Palavras

Disse-me: esqueça-me
respondi: porque a pressa
a tréplica: há amor mas não há espaço
o término: o encaixe é tão distante
a volta num beijo
dois pontos de vista sem prazo
e um destino que brinca de mergulhar no liquidificador

Absolutamente

Tem dias que eu sou cantante.
N’outros o silêncio bate.
E na forma mais errante.
Beijo de mercúrio em que me arde.








A falta
                
A falta
A exatidão da falta
A presença da falta
Sem ata
Sem data
A falta
A instransponível falta
A marcante falta
Sem salsa
Sem valsa
A falta
A intragável falta
A visível falta
Sem máscaras
Sem vísceras
A falta que preenche tudo
Todo o espaço para a falta

Desencontros

A paciência era uma jovem educada senhora
Na mocidade se apaixonou loucamente por um jovem de nome  Acaso
O tempo passou, passou a hora
E ela de tanto acenar cansou seu braço




Afta       

Incômoda
Mexe a língua
Roça o lábio

Lânguida
Lida
Inseticida
Mata grilos e corujões
Redescobre a vida e as paixões

Nasce em bocas de noites
Siso, juízo, guiso,

Tão aflita
Afeta
A fita
Rompe

Um longe
Um lugar nenhum

No céu na boca
Uma afta

Paixões deixam marcas
E trazem febre





Uma segunda-feira com sol e chuva    
          
O verbo conter
balança um barco em plena calmaria
o verbo conter
muitas vezes é a própria embarcação
o verbo conter
mistura águas, lágrimas e correntezas
o verbo conter
não entende nada de paixão

Cartografia


Engoliu à seco para lavar a alma... Naufragou, logo a seguir respirou e ao levantar a cabeça avistou novas terras... Acabei aprendendo com a cartografia o prazer de me perder, o prazer de desejar sempre a liberdade, seja qual forem os cursos d’água... Vou bem entre minhas loucuras e as fotografias amareladas que ainda guardo. Vejo o futuro com bons olhos e o amor parece que floresce, logo posso colhê-lo... quem saberá... Infinitamente eu me permito parar de vez em quando... Nesse momento, aí eu ando...
Luas
           
Repartiram os traumas, juntaram as camas, as coxas, as crises.
Alugaram um quitinete.
Compraram fogão, geladeira e uma garrafa de vinho branco.
Trocaram olhares maliciosos, penduraram um quadro, contaram até quatro.
Ah ! Era quarta.
Beijaram-se muito, muito mesmo.
Perderam o ar, os sentidos e uma pulseira que ela ganhou da tia.
Juraram amor eterno.
Ele , vestiu seu único terno.
E foi tentar, tentar, tentar.
Já era quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta de novo...

Capitu

Quando conheci Capitu
capitulei
desenganei

a confiança é um conto
um machado afiado
uma colcha de retalhos
com bainhas de linho

quem nunca se sentiu Bentinho?





Queimas                                                                                                             

És um toque de quero mais
num sol intenso
que diz "não quero" querendo

as manhãs tomam formas de copos
e bebem minhas poucas palavras

em braile acho tua nuca e a beijo


O acaso

O acaso me protegeu todo esse tempo
Bem em alguns casos
Muito mal na maioria
Mas sei que ele é meu amigo
Pois escreveu lindas histórias
E sempre me contava todas
E me avisa quando o “tudo” não podia ser interpretado
O acaso me fez café na insônia,
O acaso me fez dormir na festa,
O acaso me fez dormir na insônia,

O acaso me fez café na festa
Retratos
          
Visto a roupa que eu dizia que não vestiria
Um risco absurdo e surdo que surta
Que não me escuta, que me afasta da luta
Àquele desabafo insensato e lógico vira poesia
E a menina normalista com certeza é filha da dita

Autobiografia

Não é meu choro que chora
É a minha vida que agora sorri
Quis partir, quis ir embora
Mas o meu agora sempre foi aqui

Minh’alma é clara e transparente
Se voei demais foi por intenção
E quem não entendeu esses voos
Foi porque não entendeu meu coração

Sempre fui muito feliz
Porque aprendi que a vida é emoção
Não troco abraço de amigo por nada
Não troco beijo da mulher amada
Se errei foi com muita convicção



Línguas

Eu já nem sei o que meu querer quer me dizer
Talvez esteja mais confuso do que eu
Talvez não entenda que para esquecer
É preciso explicar o que aconteceu

Ao passo que os quereres têm “quês”
E que eles não falam uma mesma língua
O teu querer fala por sinais
E o meu fala somente português

Preciso assim que reflitas e sintas
Que a vida precisa tanto de bem querer
E que o amor pode nascer
Na invenção de uma outra língua

Tudo ao seu tempo                                                                                          

O que estava tão longe se vê à beira
um toque agora desenha o encaixe
com peças de um quebra-cabeça
guardado pelo tempo
um relógio quebrado não retarda hora alguma
tudo ao seu tempo

e o amor não é cúmplice do meteorologista
Feito o ar

Medida desmedida
Contida, sentida, amada
Muitas vezes, recriada
Por faltar fazer sentido
E ao mesmo tempo precisa
Inteira feito um vento
Que abala e direciona
Medida que não se clona
Um ciclone feito do desejo
Do teu beijo
Que nunca me abandona
És um soneto que não se conta
Que se guarda e que se vive
Que jamais me deixa triste
Por que amar deve resultar sorrisos
Somente teu olhar agora me faz sentido
Por que escolher um amor
É escolher o ser querido
Independente do triz
Da medida desmedida
O importante é que nasça da escolha
E de uma alma feliz







Seca

Que chuva tamanha que beija a seca,
A minha seca boca.
Chuva que molha as roupas do passado
E dá febre.
Uma febre tamanha que queima a seca,
A minha seca boca.
Uma sensatez louca.
A previsão é que a chuva tamanha não pare,
Então, que encharque.

Espumas
                                                                                                             
Vejo a tristeza que se espelha.
Ao ver minh‘alma que parte.
Felicidade é um fogo de palha.
Que queima, que provoca, que arde.

Mora um hiato que teima em provocar.
Um abraço de esquina que não se esquece.
Vez por outra vens feito onda de mar.
Quebra, insinua e desaparece.





Embarcações
          
Vislumbrava a cor daqueles olhos que há tanto não via.
E lia nas entrelinhas da noite escura uma claridade.
Olhos de dor, mas ao mesmo tempo de inundação de mar.
Provocações de bar e recados em guardanapos.
Saudade recém-chegada.
Saudade embarcada.
Saudade distraída.
Caída diante dos olhos sonhados.
Caída deliciosamente sobre o corpo.
Caída intencionalmente no colo querido.
Vislumbrava a cor daqueles olhos,
Para poder estar mais perto daqueles olhos tão amados.
Incendiados por uma solidão incontida.
Detalhada em sonhos que vivi acordado.
Vislumbro tua chegada todos os dias, todas as manhãs.
Quando da tua chegada descreverei realmente o que seja claridade.
E entenderás todo o tamanho das palavras que escrevo agora.

O Quando                                                            

"Quando" era um menino sozinho...
apaixonado pela menina dos olhos
mas "Quando" sempre esperava o tempo exato
e o tempo exato nunca chegava.
ah... até quando, Quando, até quando...





O amor

O amor deve fazer sorrir.
Arreganhar os dentes.
Dar gargalhadas.
Chorar de tanto rir.
O amor deve ser assim.

Um sorriso no rosto.
Um amor no coração.
E não venham me falar.
Que amor precisa de decoração.

O amor vive em si.
O amor é por si só.
O amor não quer dó.
O amor quer só ser.

...

Os medos são retalhos de uma vida.
Colchas em formas de frio.
Recados na varanda.
Correnteza de rio.



Coisas de guri

Quando eu era guri, muito guri... em Torres... descobri que o mar no quintal de casa era o mesmo mar do mundo inteiro... a felicidade sempre mora perto... é preciso bater na porta dela e dizer “eu te quero"... Coisas de mar...

A lua asa de sonho no céu cor do querer nas estrelinhas nas entrelinhas sem vírgula sem ponto sem métrica algumas palavras soltas formando um mar um reino um planeta a lua mágica dizendo tanto fazendo canto a lua assim feito chuva molhada invadindo o corpo luar certos momentos não precisam de entendimento eles só são precisos o acontecer é um luar que nos cabe todas as fases da lua tem um mar escondido sem vírgulas

Perto (quando a ficha cai)

O amor não tem CEP.
Mas o amor é certo.
O amor pode existir.
Mas só acontece perto.

O menino

Nada agora pode causar surpresa
a não ser àquele velho menino
que entende que seu "carrinho de lomba"
o levará para qualquer lugar...