domingo, 30 de agosto de 2015

Um conto de sarda


Uma menina com sarda
Brincava atrás da cortina
Desenhava uma fada
A solitária menina


Queria que a fada
Num toque de sua varinha
Retirasse do seu rosto a sarda
E ela detrás da cortina


A fada não entendendo nada
E achando tão bela a menina
Num toque doce de fada
Desapareceu com a cortina...

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Aos quinze anos (Como da vez primeira)

Minha pele faz-se papel
Pergaminhos de poesias à flor dela
Arrepios ao ouvir teu nome
Meus poros feitos sonetos de Florbela

Meu encantamento percorreu tantos anos
Mantido intacto, mantido sereno
Muitas vezes disfarçado de abandono
N´outras esperançoso por um aceno

É este amor que eu canto agora
Amor maior de uma vida inteira
Que incendeia, colore, cora
Como da vez primeira

Não é por acaso que teu nome tem mar
Pois naveguei sem cansar, pois vivi sem desistir
Minhas velas seguiam por sentir teu ar

Lembrar de ti era uma forma de existir
Saudade (uma poesia bem simples para enganar a noite que não passa)

O andar inteiro da noite inteira que demora em passar
Passo café, passo para a sala, passo roupa para adiantar
Que demora que cora, passo aqui dentro, passo lá fora
Passo o ponteiro das horas para frente para o dia mais rápido acordar
Só a saudade é que não passa
A saudade é que devora

Passo manteiga no pão, passo a mão no meu cabelo
Passo uma página do livro, passo um pano no banheiro
Passo a louça do escorredor para o armário
Passo a folha rapidamente do calendário
Passo a letra para o cantor
Só a saudade não passa, saudade do meu amor




quarta-feira, 5 de agosto de 2015

As parceiras

Bebem noites, mas adoram café da manhã...
Mastigam palavras poeticamente,
e cinicamente arrotam desaforos...
Conversam com anjos.
Passam os finais de semana no inferno.
Compram tapetes na feira livre.
Adoram tapetes voadores e persas...
Riem com cumplicidade e choram do mesmo modo.
Possuem palavras doces,
que transformam em cicatrizes outras palavras...
Mudam a sala a toda hora.
Fazem as malas a todo instante.
Adoram samambaias e cult movies.
São contraditórias,
mas nós amamos suas histórias...
E por paixão e risco nos entrelaçamos a elas...

(As parceiras não tem nexo. Nem sexo devem ter.
São línguas, do hiato ao plural. Muito de transbordar nada,
pouco de preencher tudo)

São assim as parceiras,
que muitas vezes nem primeiras são...
As parceiras são pele e flor.
Viver sem elas seria cômodo demais.



Túlio Piva  
               
Quando a lua do destino decidiu viajar
malas na sala, recados no mar
Assim veio um menino sem passagem, sem lugar
que também queria o céu...
Escreveu, ao lembrar do tanto, de um passado tão bom
e ele “nem sei em que data"...  clareou a viagem
Quem nunca ouviu Túlio Piva que me desculpe
Minha lua de menino sempre foi pendurada no céu
“feito um pandeiro de prata".


O acaso brinca de rima
          
Cabe-me, por encaixe, o olhar inteiro das bocas do acaso
Afasto-me quando, ao meu encalço, andam apressadas bocas métricas
Mergulho em luas claras e transparentes como se o medo fosse o raso
E não venham me dizer que almas são armadilhas bélicas

Atento aos relatosescuto a inconstante passagem do pensamento até o ato
Transformo-me num silêncio de lápide quando um grito quer ser mais forte do que o fato
Fatias inteiras de um bolo de chocolate do apartamento ao lado invadem lixos de uma favela
E, não venham me dizer, que corações sejam sempre as melhores janelas

Cabe-me a leveza da escrita para deixar dito o que tanto me aflige e alucina meu entender
Levado muitas vezes pelo interminável duelo daquilo do que se mais quer, com a razão burra de que não se precisa querer
Lanço-me aos poucos, aproveitando-me de noites escuras, para escrever poesias em muros que rodeiam almas tão vazias
E não me venham dizer que estou só, louco e o que entendo por felicidade sejam páginas de crônicas fictícias e fugidias...



Fomes                                                                                                 

Era inevitável a queda
frente ao vazio que se fazia
era café sem bolacha, sem fatia
era fome o que o coração mostrava e dizia

Era inevitável o pranto
frente ao exposto
era lição sem cartilha
era um mar imenso sem nenhuma possível ilha

Era inevitável o fim
frente ao penúltimo capítulo que se escrevia
era final feliz sem nenhum par
era romance sem nenhuma poesia

A fome comia...



Quietude

Invado meu silêncio com dores que o movimento do dia faz esquecer
Vejo uma multidão em minha frente ao apertar um botão
Mas ninguém me vê...

Trato assim minha tristeza
E a resposta que não recebo invade
Eu mesmo assopro

Vão-se velas em ventos que eu não criei
O tempo se faz mertiolate

Mas eu quero arder